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Casual Portugal - Povoação independente de política, mau humor e hostilidade

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Casual "Portucalense" - povoação independente de política, mau humor e hostilidade.

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Vou provavelmente ser extenso, e bastante desorganizado, pois vou despejar as coisas da minha mente conforme eu as for processando. Escrevo porque estou farto de guardar isto cá dentro. 

 

35H aqui. Estou completamente farto, cansado de estar sozinho. E sinceramente, estou exausto da minha própria vida. Não sou capaz de tomar uma acção resolutiva permanente em relação a isso, já estive em condições de o fazer por mais de uma vez e não sou capaz de dar o passo. Mas, se alguém me dissesse com segurança que amanhã não iria acordar, sinceramente, não iria oferecer oposição. Sinto que já passei 6 das 7 fases do luto, não pela minha morte (que tanto quanto eu saiba, não está próxima), mas pela minha vida.  Naturalmente, este é o momento de clarificar que sim,  estou diagnosticado com tendências depressivas e ansiedade. Mas não é de agora, fui diagnosticado há 11 anos pela primeira vez, e tive desde então acompanhamento psicoterapêutico por 3 psicólogas diferentes. 

 A primeira foi pelo público, estive lá anos a fio, e só deixei de ir pois apareceu o Covid, e como as consultas eram numa das Juntas de Freguesia locais, as consultas ficaram congeladas. Considero no entanto, sem intenção de ofensa, que foi a psicóloga que menos me ajudou. Só ia para lá falar e falar, mas olhando para trás, não houve nenhum trabalho feito, e estar lá 6 anos foi a mesma coisa do que ir lá um dia. Prossegui sem procurar alternativas. 

A segunda psicóloga, considero que foi a com qual consegui dar um pulo maior. Apareceu a necessidade de procura, já após o fim dos isolamentos, em 2021, quando a minha saúde mental caíu a pique uma segunda vez. Teve zero a ver com o Covid, pois o Covid não mudou a minha vida em nada a não ser a máscara. Só saía para trabalhar e fazer compras. Importa dizer que esta procura, também incluíu a procura de um psiquiatra, pelo qual ainda sou acompanhado. Este acompanhamento é mais clínico , e tem mais a ver com medicação. A vertente em que me foi útil foi no sono, visto que cheguei a um estado em que não conseguia dormir mais do que 1 hora por noite, por ter sempre a cabeça a pensar, pensar, pensar. Eventualmente chegámos a uma combinação de medicamentos que me permitiu começar a dormir mais ou menos normalmente. Ainda tomo 2 medicamentos dessa altura, sendo o medicamento-chave para dormir o Alprazolam, ansiolítico. Foi durante este acompanhamento que consegui mudar duas coisas. A primeira, comecei a saír de casa, eventualmente beber uns copos, estar à conversa com pessoal. Não era a primeira vez que me dava com alguém, mas era a primeira vez que eu aprendi que era possível ter amigos em quem confiar, não fossem eles (todos meus colegas na altura) as pessoas que, um ano  antes, me apanharam no trabalho a ter uma crise depressiva, e uma dessas pessoas a que me orientou os contactos da psicóloga e do psiquiatra. A outra, ter uma actividade extra-trabalho que me obrigasse a saír de casa. Duas das minhas colegas jogam e jogavam também na altura numa equipa de futsal distrital, e embora eu não seja de todo uma pessoa ávida de desportos, acabei por me sentir à vontade, à medida que conhecia o pessoal, para me aproximar à equipa e assistir aos jogos e treinos. Eventualmente entrei para a direcção do clube (neste nível, há sempre necessidade de pessoal para desempenhar certas funções, mesmo que sejam como eu e não percebam grande coisa de desporto, há tanto por  onde pegar para ajudar). Foram estas as 2 principais coisas que mudaram nesse período, mas muitas mais batalhas foram travadas, sem sucesso. A maior delas que gerava mais frustração foi a tentativa de encontrar algo que eu gostasse de fazer, hobby ou actividade, fosse o que fosse, mas que fosse por mim. A situação do clube, embora positiva para mim, é algo em que participo pelas pessoas que lá estão, não tenho muita mente para desporto. Fora quem está no clube, não procuro saber mais do que se está a passar noutros jogos, ou noutras distritais, ou mesmo nos escalões principais. Não é, de todo, a minha praia. Este acompanhamento foi interrompido pois a minha psicóloga engravidou, e teve alterações hormonais que a impediram repentinamente de continuar a exercer. Pouco tempo depois, surgiu-me a oportunidade de ir trabalhar para Lisboa, no economato de um hotel, através de uma das jogadoras do clube, que trabalhava lá na altura. Seria por norma algo que eu nem sequer consideraria, pois não vivo perto de Lisboa, mas já estava tão em rotura mental com o trabalho que tinha (Pingo Doce), que passei-me de vez e atirei-me de cabeça. Posso dizer que foi o melhor emprego que tive, a pequena equipa que constituía o departamento era 5 estrelas, e o trabalho era algo que eu conseguia fazer com alguma propriedade e destreza. O único ponto negativo era o as deslocações. Dependendo dos timings do autocarro e do metro, era entre 3 horas e meia a 4 horas de deslocação por dia. Mas fazia-se. Mais ou menos. Psicologicamente, fez-me bem ter um trabalho que justificasse o esforço. Mas com o passar do tempo, diria 6 ou 7 meses, embora a mudança fosse claramente positiva, o meu psicológico tomou a direcção oposta. O que é verdade é que por muito que algumas coisas tenham mudado, tudo é irrelevante para mim, ou pelo menos sinto dessa forma. O que sempre esteve preso e encalhado, em nada mudou. As minhas interacções sociais foram sempre extremamente complexas para a minha cabeça. Por tudo o que consegui mudar, tudo importante ficou na mesma. Voltarei a tocar neste tema. 

Com o tempo, voltei a caír psicologicamente, e tive de reiniciar o apoio psicoterapêutico. Contactei a minha psicóloga, percebendo que poderia ainda ser fora de timing, e presumo que foi esse o caso pois não obtive resposta. Tive de procurar outra psicóloga, e a que encontrei foi a minha actual. 

Em tempo útil o fiz, pois paralelamente, o desgaste do trabalho junto com o meu estado psicológico estava a começar também a ter efeitos na minha saúde, e eu não estava a entender o que se estava a passar. Fui diagnosticado com um início de esgotamento, e tive de tomar a decisão de saír daquele emprego, e específicamente, de me afastar de Lisboa (além do tempo queimado por dia, o ambiente e ritmo de Lisboa tinham efeitos nefastos em mim, e espero sinceramente nunca mais ter de lá pôr os pés nessa cidade, a menos que seja com uma boa razão). Não saí logo, aguentei uns meses para dar tempo tanto ao chefe do meu departamento, como para mim próprio de arranjar uma saída de forma estruturada, por muito que o que me apetecesse fosse simplesmente desaparecer de tudo, as responsabilidades obrigam a ter mais cuidado. 

Através de uma das pessoas da direcção do clube da qual faço parte, a próxima paragem foi (e ainda é até este dia) algo que nunca tinha feito. Uma empresa local de jardinagem onde ele também trabalha, onde se fazem tanto obras de raíz como manutenções. 90% dos clientes são pessoas de outro país que compraram ou construíram vivendas em pequenas localidades à volta da cidade onde vivo para fazer vida familiar cá. A urgência em encontrar algo que fosse próximo de casa, ganhar tempo por dia, imperou sobre o risco enorme de ser algo completamente fora do que eu conheço, e que contém circunstâncias nas quais nunca trabalhei. 

Prós até agora? O pessoal é fixe, inclusivé os 2 patrões. A logística é adequada, a nível de horários e sistema de trabalho. Infelizmente acabam aí. 

Posso dizer que à parte de uma ou outra tarefa que não me aquece nem arrefece, odeio quase tudo o que faço (Convém no entanto dizer que não é a primeira vez que trabalho em algo que odeio, como mencionei antes. Faz parte. Trabalho é trabalho e eu estava preparado para isso quando saí do hotel, principalmente sabendo que tendo sido esse o meu melhor emprego, provavelmente tudo iria sentir pior por comparação).  

A exigência física é mais do que consigo lidar (não estou a falar de trabalho regular, ao qual sempre estive habituado). Há material que tem de se utilizar e tarefas a executar principalmente em obras, e às vezes até circunstâncias de cada jardim a nível de espaço manobrável, que pura e simplesmente não têm maneira “inteligente” de se executar. Precisam de força bruta e pronto. Força que não tenho, nunca tive, e começo a pensar que nunca vou ter. Era um dos meus receios no início, e deixei-o claro, inclusivamente aos patrões, por uma questão de abertura. Toda a gente me disse que isso é algo que com o tempo se adquire, é normal no início haver essa discrepância. No entanto, já passaram meses e não está a ocorrer essa aquisição/ habituação. Até pelo contrário, sinto que estou a perder capacidade física em vez de ganhá-la. O maior exemplo é algo que nunca me aconteceu antes, que é que hoje em dia, mesmo fora de contexto de trabalho, me custa imenso subir terrenos inclinados (pode até ser um passeio, não estou só a falar de jardins). Nem precisam de ser muito inclinados, só o suficiente para alguma da força ter de ser executada com os joelhos, e eles começam-me logo a doer, e tenho de recorrer a dar passos muito mais pequenos do que fisicamente consigo, quase como se tivesse mais 50 anos em cima do que os que tenho. Sinto-me literalmente mais velho do que o que sou. 

Uma das esperanças que eu tinha (principalmente por sugestão de outros) é que a parte do trabalho ao ar livre poder fazer-me bem psicologicamente. Nunca me foi dado como uma certeza que isso iria acontecer, mas posso honestamente dizer que o ar livre me incomoda mais do que o que me ajuda. E isto é n...


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