Anarquismo

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Comunidade sobre Anarquismo.

Sem governante, soberania ou reino.
Só o Povo Salva o Povo!

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Bakunin: todas as religiões com seus deuses, semideuses, profetas, messias e santos são o produto do capricho e da credulidade do homem que não alcançou o desenvolvimento total e a personalidade completa de seus poderes intelectuais.

Mikhail Aleksandrovitch Bakunin, o velho revolucionário russo, enfim morreu, para a tranquilidade dos reis, presidentes, burgueses e marxistas. Morreu e, com seu extenso curriculum debaixo do braço, foi direto para o Inferno. Lá chegando, foi recebido na portaria pelo próprio Belzebu que, passando os olhos no espesso calhamaço, disse entusiasmado:

– Belo curriculum hein, Sr. Bakunin! Décadas de luta contra a Igreja, participação em inúmeras insurreições, expulso de vários países, prisões, porres homéricos…Com tudo isso, vou lhe enviar para o Setor 1 aqui do Inferno, que é mais tranquilo, as penas são moleza, uma cortesia para uma celebridade como o senhor.

Dito e feito, lá se foi Bakunin para o Setor 1.

Três dias depois, estava lá Belzebu distraidamente mexendo seu caldeirão cheio de almas, quando é repentinamente interrompido por um esbaforido diabo-auxiliar, que dá seu relatório urgente:

– Mestre, está uma zona lá no Setor 1! O Bakunin organizou as almas em um sindicato e foi decretada uma paralisação geral pela diminuição da jornada de penitências, temperatura mais amena e um monte de outras coisas. Belzebu ficou puto e decretou:

– Porra, esse cara é um mal agradecido! Se ele pensa que vai zonear os meus domínios como fez lá na Terra, está muito enganado. Pega ele e manda para o Setor 2 que ele vai ver o que é bom pra tosse!

E lá se foi o velho Miguel para o temido Setor 2.

Três dias depois, lá estava Belzebu torturando uma almas recém-chegadas, quando novamente é interrompido pelo diabo-auxiliar que, com os nervos a flor da pele, deu seu novo relatório:

– Chefe, o Setor 2 está em greve de ocupação! Bakunin e mais uma comissão de almas exigem audiência com o senhor para a apresentação de uma pauta de reivindicações quilométrica. Eles querem penas mais suaves, equiparação com o pessoal do Setor 1, adicional de insalubridade, lazer nas horas vagas.

– Chega!!! – interrompe o diabo-superior – Esse barbudo está querendo anarquizar com o meu Inferno. Vou acabar já já com essa insubordinação, tá pensando o quê?! Pega esse anarquista e manda ele para a solitária, que eu quero ver ele organizar alguma coisa.

Bakunin só foi retirado a muito custo do Setor 2 com intervenção da Tropa de Choque, pois as almas tentaram impedir a sua saída com barricadas, pedradas e muita porrada.

No dia seguinte, quando Belzebu ainda nem tinha se refeito dos contratempos da véspera, chega o diabo-auxiliar mais nervoso ainda e solta o último relatório:

– Mestre, o Inferno inteiro está em greve geral de solidariedade ao Bakunin. Todos exigem sua imediata libertação.

– Basta! – urrou Belzebu – Vou mandar esse cara imediatamente para o Céu, coisa que já devia ter feito a muito tempo. Imagina só a balbúrdia que ele vai aprontar por lá; ele em uma semana vai conseguir esculhambar aquilo tudo. Como eu não pensei nisso antes?!

E lá se foi Bakunin – quem diria! – para o Céu, onde foi recebido por São Pedro. Folheando seu curriculum, ele disse:

– Sr. Bakunin, que coisa feia! Anticlericalismo, revoluções, prisões, bebedeiras…Bom, mas como a piedade de Deus é infinita e como o senhor veio deportado do Inferno, pode entrar na casa do Senhor.

E assim, Miguel Bakunin entrou no Céu.

Lá embaixo, Belzebu estava na maior expectativa com as notícias do Céu. Cara colada na home-page celestial (afinal, ele era um capeta atualizado), esperando notícias de uma sublevação geral no Reino do Senhor. Passa um dia, dois dias, três, quatro, e nada, nenhuma notícia de anormalidade lá em cima. Quando deu uma semana, Belzebu não suportou, pegou o elevador e foi lá conferir pessoalmente.

Discretamente, assobiando e com as mãos para trás, ele foi se aproximando da portaria do Céu, onde estava São Pedro trabalhando normalmente. Encostou no guichê, olhou distraidamente para as unhas, e puxou papo com São Pedro:

– E aí Pedro, tudo bem por aí?

– Tudo tranquilo como sempre. – respondeu o santo.

– Vem cá, e um cara que eu mandei praí, um tal de Miguel…

– Bakunin – completou São Pedro. – Ele está bem, por quê?

– Nada em especial, mas… ele não tem feito nenhuma agitação por aí?

– Não que eu saiba – respondeu Pedro.

– E Deus, não comentou nada sobre esse tal Bakunin? – perguntou o diabo.Nesse momento, São Pedro se levantou, colocou as duas mãos nos ombros de Belzebu e, olhando nos seus olhos, falou decidido:

– Companheiro Belzebu, Deus não existe!

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O anarquismo é uma ideologia política que prega a abolição do Estado e a organização social baseada na cooperação voluntária e autogestão. O anarquismo surgiu como um movimento político no século XIX na Europa, especialmente na França e na Rússia.

O anarquismo é uma corrente de pensamento que se opõe ao autoritarismo e à opressão e defende a liberdade individual e coletiva. O anarquismo é uma filosofia política que propõe uma sociedade sem hierarquia e sem dominação, baseada na cooperação e na solidariedade entre as pessoas.

O anarquismo é uma ideologia diversa, que abrange diferentes correntes de pensamento e práticas políticas, como o anarcocomunismo, o anarquismo individualista e o anarco-sindicalismo. O anarquismo também tem sido associado a movimentos sociais como o feminismo, o ambientalismo e o pacifismo.

Os primeiros teóricos do anarquismo surgiram no século XIX, como o filósofo francês Pierre-Joseph Proudhon, que cunhou a frase “a propriedade é um roubo” e defendeu a abolição do Estado e do capitalismo. Outros pensadores anarquistas importantes incluem Mikhail Bakunin, Emma Goldman e Errico Malatesta.

O anarquismo teve um papel importante na história dos movimentos sociais e políticos em todo o mundo, especialmente no final do século XIX e início do século XX. O anarquismo também foi associado a eventos como a Revolução Espanhola de 1936 e ao movimento punk dos anos 1970. Atualmente, existem grupos e indivíduos que se identificam como anarquistas em todo o mundo, embora a ideologia tenha sido criticada e debatida ao longo do tempo por muitos outros pensadores e correntes políticas.

Essa é uma postagem dedicada a pessoas que não sabem nada sobre o anarquismo!

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XIV Feira Anarquista de São Paulo (feiranarquistasp.wordpress.com)
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Introdução:

O objetivo deste panfleto é explorar as ideias do grande pensador alemão e o seu valor para os anarco-comunistas. Alguns leitores familiarizados com o trabalho de Stirner irão imediatamente irritar-se com isto, salientando que Stirner era um crítico aberto do comunismo. Ele era mesmo. Mas o comunismo que Stirner criticou era a mesma variedade de comunismo que os anarquistas criticam – o comunismo autoritário . O anarco-comunismo, como teoria política desenvolvida, não existia realmente nos dias de Stirner, e o comunismo que Stirner tinha em mente era o comunismo do mosteiro ou do quartel, um comunismo de auto-sacrifício e de nivelamento geral. Aqueles que preferem um comunismo que garanta a liberdade de cada indivíduo se desenvolver como único podem encontrar muito valor em Stirner.

Ideias de Stirner

Stirner começa seu livro perguntando: “O que não deveria ser minha preocupação?” Ele responde que se supõe que um indivíduo se preocupe primeiro com a causa de Deus, depois com a causa da humanidade, a causa do país, da verdade, da justiça e 1.000 outras causas. A única causa que não deveria preocupar o indivíduo é a sua própria causa, a causa do eu . Minha causa não deveria ser minha preocupação. A pessoa que faz da sua própria causa a sua preocupação é uma pessoa egoísta. Em vez disso, o indivíduo é sempre instruído a colocar outra causa antes da sua. Devemos trabalhar incansavelmente ao serviço do outro ou dos outros, nunca para nós mesmos. Pensar em fazer o contrário tornaria alguém um egoísta imoral. Somos morais apenas quando somos altruístas, quando assumimos uma causa que nos é estranha e a servimos.

Stirner não aceitará nada disso. Ele pergunta: Deus serve a uma causa diferente da Sua? Não, respondem os fiéis. Deus é tudo em todos, nenhuma causa pode deixar de ser Sua. A humanidade serve uma causa que não é a sua? pergunta Stirner, e os humanistas respondem: Não, a Humanidade serve apenas os interesses da Humanidade. Nenhuma causa pode deixar de ser a causa humana.

As causas de Deus e da Humanidade revelam-se, no final, puramente egoístas. Deus se preocupa apenas consigo mesmo, o homem da mesma forma. Assim, Stirner incentiva seus leitores a seguirem o exemplo desses grandes egoístas e a se tornarem o principal. Em outras palavras, tornar-se egoístas conscientes. Para Stirner, todos os indivíduos são absolutamente únicos e, uma vez que o indivíduo se torne consciente do seu egoísmo, rejeitará qualquer tentativa de restringir a sua singularidade pessoal ou de restringir a sua autonomia individual. É claro que isso inclui chamados para agir apenas a serviço de algo superior a si mesmo. Aqueles que se sacrificam para servir a algum ser ou causa superior são egoístas enganados ou inconscientes, buscando seu próprio prazer e satisfação em nome de qualquer causa à qual se subordinaram, mas recusando-se a admiti-lo. Eles são egoístas que gostariam de não ser egoístas:

“Todas as suas ações são egoísmo inconfessado, secreto, dissimulado e oculto. Mas porque são egoísmo que vocês não estão dispostos a confessar a si mesmos, que vocês mantêm em segredo de si mesmos, portanto não são egoísmo manifesto e público, conseqüentemente egoísmo inconsciente – portanto, eles não são egoísmos, mas escravidão, serviço, auto-renúncia; vocês são egoístas, e não são, já que renunciam ao egoísmo.”

Stirner começa e termina seu livro gritando:

“Não estabeleci minha causa em nada!”

Esta citação de Goethe teria sido familiar ao público alemão contemporâneo de Stirner. A próxima linha não declarada do poema é:

“E todo o mundo é meu”.

O eu, para Stirner, é algo impossível de compreender plenamente, porque cada um de nós está constantemente consumindo e recriando o seu eu. Stirner refere-se a este processo de autoconsumo e autocriação como o nada criativo :

“Não nada no sentido de vazio, mas nada no sentido de que eu, como criador, crio tudo”.

As causas externas que sempre pedem ao indivíduo que se coloque em último lugar, que o tratam como se ele não fosse nada, estão agora sujeitas a serem ativamente apropriadas e usadas pelo egoísta como ele achar adequado.

O Ego e o que é Próprio está organizado em torno de uma estrutura dialética de três partes. Stirner começa nos dando o exemplo de uma vida humana e depois compara os três estágios do desenvolvimento humano aos três estágios do desenvolvimento histórico. Começamos a vida como crianças realistas . Durante esta fase, a criança está sujeita a forças físicas externas, como as dos pais. Contudo, a criança começa a libertar-se destas restrições através do que Stirner chama de descoberta da mente. A criança, usando sua inteligência e determinação, começa a fugir das forças puramente físicas que antes a mantinham sob controle. Desta forma, passamos da infância realista para a juventude idealista . As restrições externas do físico já não constituem terror para o jovem, mas agora ele está sujeito às restrições internas da razão, da consciência, do ideal. A criança está apaixonada pelo lado terreno da vida, o jovem pelo lado celestial. Somente quando alguém atinge a idade adulta egoísta é que se liberta tanto das restrições externas, terrenas, quanto das restrições internas, celestiais. Stirner resume assim:

“Assim como me encontro atrás das coisas, e isso como mente, também devo encontrar- me mais tarde também atrás dos pensamentos – ou seja, como seu criador e proprietário. No tempo dos espíritos, os pensamentos cresceram até ultrapassarem a minha cabeça, de quem ainda eram descendentes; eles pairavam ao meu redor e me convulsionavam como fantasias febris – um poder terrível. Os pensamentos tornaram-se corpóreos por si mesmos, eram fantasmas, por exemplo, Deus, Imperador, Papa, Pátria, etc. Se eu destruir a sua corporeidade, então eu os tomo de volta na minha e digo: 'Só eu sou corpóreo.' E agora considero o mundo como o que ele é para mim, como meu, como minha propriedade; Refiro-me tudo a mim mesmo.“

Stirner mostra então estas mesmas três fases no contexto do desenvolvimento histórico: o mundo realista da antiguidade, o mundo idealista da modernidade e o futuro egoísta que ainda não surgiu.

Ele compara o mundo antigo e pré-cristão à infância realista e o mundo cristão moderno à juventude idealista. Com a ascensão do secularismo, a sociedade moderna afirma ter escapado ao domínio dos modos religiosos de pensamento sobre a vida. Não é assim, diz Stirner. A modernidade serviu apenas para aumentar o domínio da religião – o domínio de essências superiores estabelecidas sobre o indivíduo. Um exemplo é a Reforma Protestante. Embora a Reforma seja e tenha sido amplamente considerada como um evento libertador que abriu a porta para “a religião da liberdade de consciência” e libertou a vida da autoridade da igreja, Stirner viu-a como uma expansão e fortalecimento da dominação religiosa. A religião foi, através da Reforma, capaz de se intrometer em áreas da vida onde antes era desconhecida. A Igreja Católica impediu que os padres se casassem; O protestantismo tornou o casamento religioso. De modo semelhante, a Igreja Católica, com o seu sacerdócio institucionalizado e formal, colocou a autoridade religiosa fora do indivíduo. O protestantismo, no entanto, aboliu o clero institucional em favor de um “sacerdócio de todos os crentes” e assim colocou a autoridade religiosa dentro do crente – uma autoridade da qual ele nunca poderia escapar. O resultado deixou os indivíduos em guerra consigo mesmos, divididos entre a realização dos seus desejos e o tormento da ideia fixa de autoridade religiosa internalizada. Stirner compara isso à luta entre os cidadãos e a polícia secreta do estado.

Este padrão, argumenta Stirner, continuou ao longo da modernidade. Embora se tenha falado muito sobre o progresso e a consecução de uma sociedade mais livre, sobre a transcendência dos valores desgastados e das tradições mortas do passado, a modernidade apenas transforma a autoridade – ampliando-a e fortalecendo-a em virtude de a tornar mais invisível. A ascensão do humanismo, por exemplo, destronou o Deus crucificado e em Seu lugar exaltou a Humanidade. Mas como a Humanidade é também um ideal colocado acima do indivíduo ao qual ela se subordina, Stirner considera o humanismo uma religião tanto quanto o Cristianismo que afirma ter superado. “Nossos ateus são pessoas piedosas.” O humanismo, diz Stirner, é na verdade mais tirânico do que o teísmo porque a Humanidade fantasma é capaz de aterrorizar os não-crentes juntamente com os fiéis. Para Stirner, a modernidade apenas aumentou o número de abstrações (que ele chamou de “fantasmas”) às quais as pessoas se subordinam.

Stirner acusa aqueles que se consideram “livres” (poderíamos chamá-los de “progressistas” no jargão de hoje) de se posicionarem como iconoclastas quando na realidade são apenas “os mais modernos dos modernos”. Ele criticou fortemente os hegelianos de esquerda que dominavam a filosofia alemã na época e o liberalismo que estava emergindo como a força predominante no pensamento político e social. Stirner agrupou o liberalismo em três tipos: liberalismo político (o que hoje seria chamado de liberalismo clássico), liberalismo social (socialismo) e liberalismo humano (humanismo). O liberalismo político tratou os indivíduos como cidadãos livres dentro de um Estado, o liberalismo social tratou os indivíduos como trabalhadores, e o liberalismo humano tratou os indivíduos como seres humanos – mas todas as variedades de liberalismo essencializam algum aspecto do indivíduo e colocam-no acima dele como algo que eles deveriam se subordinar. Para Stirner, todos os indivíduos são mais do que cidadãos, trabalhadores ou mesmo seres humanos. A natureza humana ou a essência humana não pode ser separada do indivíduo e colocada acima dele, porque então se torna nada mais que outro fantasma. Para Stirner não existe uma essência humana universal que possa ser colocada acima das pessoas, apenas indivíduos tal como existem aqui e agora como carne e sangue.

Da sua crítica contundente à modernidade, Stirner passa à antecipação do futuro egoísta. Ele exorta os indivíduos a demolir todas as ideias sagradas e a libertar-se das cadeias da autoridade. Esta libertação não é algo que o indivíduo possa deixar que outra pessoa faça por ele. Stirner deixa clara sua posição em um dos argumentos anarquistas mais eloqüentes já escritos em favor da autolibertação:

“Aqui reside a diferença entre autolibertação e emancipação. Aqueles que hoje “estão na oposição” estão sedentos e gritam para serem “libertados”. Os príncipes devem 'declarar maiores de idade a seus povos', isto é , emancipá-los! Comporte-se como se fosse maior de idade, e o é sem qualquer declaração de maioridade; se você não se comportar de acordo, você não é digno disso e nunca atingirá a maioridade, mesmo com uma declaração de maioridade. Quando os gregos atingiram a maioridade, expulsaram seus tiranos e, quando o filho atingiu a maioridade, tornou-se independente do pai. Se os gregos tivessem esperado até que os seus tiranos lhes permitissem graciosamente a maioria, poderiam ter esperado muito tempo. Um pai sensato expulsa um filho que ainda não atingiu a maioridade e fica com a casa para si. O homem que é libertado nada mais é do que um homem liberto, um libertino , um cão que arrasta consigo um pedaço de corrente: ele é um homem não-livre vestido de liberdade, como o asno na pele de leão.”

À medida que mais e mais pessoas se tornam egoístas conscientes, elas negarão restrições à sua individualidade, sejam essas restrições físicas ou espirituais.

Deve-se salientar que a ideia de egoísmo de Stirner difere significativamente de outras filosofias às vezes chamadas de egoísmo. Stirner era um defensor do interesse próprio, até mesmo do egoísmo, mas não usou esses termos da maneira estreita e típica. Stirner não foi um apóstolo da busca incessante pelo lucro, nem pregou o isolamento ou usou o egoísmo como desculpa para nunca se importar com ninguém. Para Stirner, o interesse próprio consistia no indivíduo egoísta tomar ativamente o mundo ao seu redor como sua propriedade. O uso da palavra propriedade por Stirner fez com que muitos leitores o interpretassem mal, mas ele não estava se referindo à propriedade em um sentido econômico limitado. Em vez disso, ele usou a palavra para se referir a qualquer coisa que não fosse alienada do egoísta. Assim, quando tenho um interesse pessoal por uma ideia, estendo a mão e faço dessa ideia minha, minha propriedade. Para o egoísta consciente, o único fator determinante para obter algo como propriedade é a disposição de estender a mão e tomá-lo. O objetivo desta apreensão ativa da propriedade egoísta é o prazer próprio. Até mesmo outras pessoas são, para Stirner, um meio de auto-prazer (mútuo):

“Para mim você não é nada além de meu alimento, assim como eu sou alimentado e usado por você. Temos apenas uma relação entre nós, a da usabilidade, da utilidade, do uso.”

Aqueles que vêem Stirner como um defensor da exploração dos outros não conseguem ler o que está escrito. Stirner usou o exemplo de amantes, amigos indo a um café e crianças brincando como exemplos desse tipo de prazer ou consumo mútuo, relacionamentos que ele denominou uniões de egoístas . A união dos egoístas é uma relação em que todos os que dela participam o fazem livre e voluntariamente por egoísmo. O egoísta usa o sindicato, o sindicato não o usa. Todos os participantes do sindicato renovam constantemente a relação através de um ato de vontade; se algum participante estiver perdendo ou perdido, então o sindicato degenerou em outra coisa. A união foi o método alternativo proposto por Stirner para organizar a sociedade, um meio pelo qual os egoístas poderiam “afundar o navio do Estado” e dar origem a um estado de coisas em que a autonomia individual floresceria.

Este foi necessariamente apenas um resumo extremamente breve das ideias de Stirner, com a intenção de despertar interesse e fornecer contexto para a segunda metade deste ensaio. A amplitude e o alcance do pensamento de Stirner tornam-no difícil de resumir, e esta seção poderia facilmente ter sido duas vezes mais longa. Aqueles que desejam mais devem consultar a lista de leituras recomendadas no final do panfleto. Todos terão que decidir quanto de Stirner querem levar e o que fazer com isso, mas como o próprio Stirner disse sobre as interpretações de seu trabalho, “isso é problema seu e não me incomoda”.

“Não baseei minha causa em nada!”

A relevância de Stirner para os anarco-comunistas É um facto que até há relativamente pouco tempo, a maioria dos anarquistas inspirados por Stirner não eram comunistas. Nos Estados Unidos, os expoentes mais conhecidos do egoísmo foram Benjamin Tucker e seus camaradas, centrados no jornal anarquista individualista Liberty . Na verdade, Tucker foi a força motriz por trás da publicação da primeira edição em inglês do livro de Stirner. No entanto, ele também teve uma influência significativa sobre os pensadores da tradição anarquista dominante. Na década de 1940, os anarco-sindicalistas do Grupo Anarquista de Glasgow fizeram das ideias de Stirner a base da sua organização. Eles interpretaram a ideia de Stirner da união de egoístas literalmente como uma forma de organização livre dentro da indústria e assim explicaram o sindicalismo como “egoísmo aplicado”. O ativista e cartunista anarco-comunista Donald Rooum foi apresentado a Stirner por membros deste grupo e aderiu ao egoísmo consciente desde então. O anarquismo de Emma Goldman foi profundamente influenciado por pensadores como Stirner e Nietzsche. Na introdução de seu livro Anarchism and Other Essays , Goldman defende Stirner contra interpretações superficiais e errôneas, comentando que sua filosofia contém "as maiores possibilidades sociais". Até mesmo o jovem Murray Bookchin, cuja atitude para com o egoísta alemão mais tarde azedou consideravelmente, escreveu:

“Stirner criou uma visão utópica da individualidade que marcou um novo ponto de partida para a afirmação da personalidade num mundo cada vez mais impessoal.”

Claramente, os anarquistas de orientação social têm estado interessados ​​nas ideias de Stirner. Eles continuam interessados ​​hoje, e por boas razões. Num mundo onde até os revolucionários se encontram muitas vezes perdidos entre os inimigos do indivíduo e apelam ao auto-sacrifício, o egoísmo intransigente de Stirner é uma lufada de ar fresco. Muitos comunistas, embora rejeitassem Deus o Pai, Deus o Estado e Deus a Corporação, criaram em vez disso Deus a Comunidade, uma divindade temível que Kropotkin chamou de “mais terrível do que qualquer uma das anteriores”. Para Stirner, assim como para o comunista egoísta, todos estes são fantasmas.

O egoísta comunista não serve o povo, as massas ou qualquer outro fantasma. Ela serve a si mesmo, porque faz parte do povo, parte das massas. Como a Humanidade pode ser feliz quando você e eu estamos tristes? Como observaram os autodenominados marxistas-stirneristas do grupo For Ourselves da Bay Area:

“Qualquer revolucionário com quem se pode contar só pode estar nisso por si mesmo; pessoas altruístas sempre podem mudar a lealdade de uma projeção para outra. Além disso, só se pode confiar nas pessoas mais gananciosas para levar a cabo o seu projecto revolucionário.”

Os anarquistas que desejam demolir a autoridade do Estado e do capital, mas querem deixar intacta a autoridade de ideias fixas como moralidade, humanidade, direitos ou altruísmo, apenas vão a meio caminho. Para o egoísta, estes fantasmas podem ser ainda mais cruéis do que as formas mais visíveis de autoridade. O altruísmo, viver para servir os outros, é uma das superstições mais perniciosas existentes na nossa civilização hoje. Os trabalhadores envolvem-se numa terrível acção altruísta todos os dias quando trabalham para enriquecer o capitalista, que recebe muito simplesmente pelo facto de já ter tanto. As mulheres são vítimas do altruísmo quando desperdiçam “vivendo para servir” um homem que nada mais é do que um pequeno tirano do lar. Os outros crimes que advêm do altruísmo são intermináveis, e é claro para os egoístas conscientes que o socialismo altruísta é uma farsa, capaz apenas de transformar a autoridade, mas não de aboli-la. O egoísmo encoraja os indivíduos a não morrerem mais lentamente dando presentes a quem não dá nada em troca, e desta ideia flui o desejo comunista egoísta de insurreição e expropriação.

Quando se aplica a noção de fantasma de Stirner a um dos ídolos mais sagrados da sociedade, a propriedade privada, as implicações são quase necessariamente comunistas. Quantos indivíduos tiveram sua propriedade sacrificada e vidas arruinadas por este horrível Moloch? Stirner ridicularizou a ideia de qualquer direito à propriedade (como ridicularizou os direitos em geral), apontando que a propriedade se baseia na força, ou no poder de alguém para obtê-la e mantê-la. A propriedade privada – propriedade alheia – é apenas mais um fantasma, porque o mundo inteiro é propriedade do egoísta, à espera de ser tomado. Por outras palavras, o egoísta comunista tem como objecto da sua apropriação a totalidade da vida. Stirner insinuou isso com sua citação memorável:

“Não me afasto timidamente de sua propriedade, mas considero-a sempre minha propriedade, na qual não 'respeito' nada. Por favor, faça o mesmo com o que você chama de minha propriedade!

Stirner também atacou aspectos fundamentais da vida capitalista como a divisão do trabalho e até mesmo o próprio trabalho:

“Quando todos devem se transformar em homens, condenar um homem a um trabalho mecânico equivale à mesma coisa que escravidão... Todo trabalho deve ter a intenção de que o homem fique satisfeito. Portanto, ele também deve tornar-se um mestre nisso, ser capaz de realizá-lo como uma totalidade. Aquele que numa fábrica de alfinetes apenas coloca cabeças, apenas desenha o fio, trabalha, por assim dizer, mecanicamente, como uma máquina; ele permanece semitreinado, não se torna um mestre: seu trabalho não pode satisfazê-lo, apenas cansá-lo. Seu trabalho não é nada por si mesmo, não tem objeto em si, não é nada completo em si; ele trabalha apenas nas mãos de outro e é usado (explorado) por esse outro.”

Em contraste com o trabalho capitalista forçado, degradante e regulamentado, Stirner justapôs o trabalho egoísta, no qual as pessoas participariam puramente por egoísmo e proporcionariam oportunidades de autorrealização e prazer próprio. Tal trabalho egoísta poderia ser feito sozinho ou em união de egoístas com outros, mas cada participante permaneceria conscientemente egoísta. Na verdade, Stirner reconheceu que a cooperação era muitas vezes mais satisfatória do que a competição:

“A aquisição inquieta não nos deixa respirar, desfrutar com calma. Não obtemos o conforto de nossos bens…. Portanto, é de qualquer forma útil que cheguemos a um acordo sobre o trabalho humano para que ele não possa, como acontece na competição, exigir todo o nosso tempo e trabalho.”

A principal crítica de Stirner ao socialismo e ao comunismo tal como existiam em sua época era que eles ignoravam o indivíduo; pretendiam entregar a propriedade à sociedade abstracionista, o que significava que nenhuma pessoa existente possuía realmente alguma coisa. O socialismo autoritário cura os males da livre concorrência (que Stirner correctamente observou não ser livre) ao alienar tudo de todos. Este tipo de comunismo baseava-se na Comunidade, na Sociedade com S maiúsculo, e não na união que Stirner desejava. Um comunismo que coloca os bens nas mãos de um fantasma e não deixa nada para o indivíduo não pode ser muito mais do que uma nova tirania. O anarco-comunismo pode beneficiar destas percepções egoístas, uma vez que servem como um lembrete de que o comunismo não é procurado por si só, mas como um meio de garantir a cada indivíduo o prazer e a auto-realização dos únicos.

Compreender a união de egoístas de Stirner é crucial para compreender as suas ideias sobre a insurreição e como elas podem ser reconciliadas com as visões anarquistas mais convencionais da revolução. Stirner rejeitou a revolução em favor da insurreição, no sentido etimológico de “elevar-se acima”.

“A revolução visava novos arranjos. A insurreição exorta-nos a não nos deixarmos arranjar mais, mas a nos organizarmos e a não depositarmos esperanças brilhantes nas instituições.”

No entanto, Stirner reconheceu o potencial libertador da acção de grupo e o entrelaçamento da insurreição pessoal de cada egoísta, comentando mesmo sobre o valor da acção de greve:

“Os trabalhadores têm o maior poder em suas mãos e, se uma vez se tornassem completamente conscientes dele e o usassem, nada lhes resistiria; teriam apenas de parar o trabalho, considerar o produto do trabalho como seu e aproveitá-lo. Este é o sentido das perturbações laborais que se manifestam aqui e ali.

O Estado repousa na escravidão do trabalho . Se o trabalho se tornar gratuito, o Estado estará perdido.”

Stirner exortou os egoístas a se unirem, não por qualquer sentimentalismo piegas ou moralismo equivocado, mas por um desejo de ver o egoísmo se generalizar, para que cada egoísta conheça o prazer que pode ser encontrado em outros indivíduos plenamente realizados. O indivíduo genuinamente egoísta nunca ficará satisfeito com nada menos do que um egoísmo universalizado. O egoísta une-se àqueles que partilham os seus interesses, e todos os explorados e oprimidos têm certamente um interesse pessoal em pôr fim à sua opressão. O que outros anarquistas chamaram de revolução social é, para o egoísta consciente, um entrelaçamento maciço da insurreição pessoal de cada indivíduo, uma união numa união de egoístas para perpetuar o que Stirner referiu como “um imenso, imprudente, desavergonhado, sem consciência, orgulhoso, crime."

O crime de insurreição, de expropriação, de revolução!...

“… não ressoa no trovão distante, e você não vê como o céu fica ameaçadoramente silencioso e sombrio?”

Recommended Reading

The Ego and Its Own by Max Stirner. Stirner’s only book and magnum opus. Unfortunately, there is still only one English translation available, Stephen T. Byington’s. Wolfi Landstreicher is currently working on a new one, slated to appear in the near future.

Stirner’s Critics by Max Stirner. In this essay, Stirner (speaking in the third person throughout) clarifies some misinterpretations of his philosophy.

The False Principle of Our Education by Max Stirner. In this article, which predates the publication of The Ego and its Own, Stirner critiques both the humanism of the aristocratic style of education, which aimed to produce disinterested scholars, and the realism of the democratic school of thought, which aimed to produce useful citizens. Stirner, while tending to favor the latter, argues that the goal of education should instead be the cultivation of free, self-creating individuals.

“The Individual, Society, and the State” by Emma Goldman. Goldman’s most “Stirnerian” essay.

“Victims of Morality” by Emma Goldman. In this essay Goldman attacks the spook of morality as a lie “detrimental to growth, so enervating and paralyzing to the minds and hearts of the people.”

The Right to be Greedy: Theses on the Practical Necessity of Demanding Absolutely Everything by For Ourselves. An inspired fusion of Stirner and Marx by this short-lived Situationist-influenced group. For Ourselves argue that “greed in its fullest sense is the only possible basis of communist society. The present forms of greed lose out, in the end, because they turn out to be not greedy enough.”

The Minimum Definition of Intelligence by For Ourselves. A critique of ideology and fixed thought coupled with theses concerning the construction of one’s own critical self-theory.

The Soul of Man [sic] Under Socialism by Oscar Wilde. This beautiful essay is one of the most eloquent egoist defenses of libertarian communism ever penned. It is not known for certain whether Wilde actually read Stirner; however, he could read German and similarities in style between this text and The Ego make it seem likely that he did. In any case, this anarcho-dandy’s writing is invaluable to the serious student of egoism.

Max Stirner’s Dialectical Egoism: A New Interpretation by John F. Welsh. The most thorough and coherent exploration of Stirner’s thought available in English. An exploration of Stirner’s philosophy, his influence on the thinkers Benjamin Tucker, James L. Walker, and Dora Marsden, and an investigation of the relationship between Stirner and Nietzsche.

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O mesmo video está com qualidade maior no Vimeo: https://vimeo.com/43639159

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É a caraterística do privilégio e de toda posição privilegiada matar a mente e o coração dos homens. O homem privilegiado, seja prática ou economicamente, é um homem depravado na mente e no coração. Esta é uma lei social que não admite exceção, e é tão aplicável a nações inteiras como a classes, corporações e indivíduos. É a lei da igualdade, a condição suprema da liberdade e da humanidade. O principal objetivo deste tratado é precisamente demonstrar esta verdade em todas as manifestações da vida social.

Um organismo científico ao qual tivesse sido confiado o governo da sociedade acabaria por se dedicar, em breve, não mais à ciência, mas a um assunto completamente diferente; e esse assunto, como no caso de todos os poderes estabelecidos, seria a sua própria perpetuação eterna, tornando a sociedade confiada aos seus cuidados cada vez mais estúpida e, consequentemente, mais necessitada do seu governo e direção.

Mas o que é verdade para as academias científicas é também verdade para todas as assembleias constituintes e legislativas, mesmo aquelas escolhidas por sufrágio universal. Neste último caso, elas podem renovar a sua composição, é verdade, mas isso não impede a formação, dentro de alguns anos, de um corpo de políticos, privilegiados de facto, mas não de direito, que, dedicando-se exclusivamente à direção dos assuntos públicos de um país, acabam por formar uma espécie de aristocracia ou oligarquia política. Veja-se o caso dos Estados Unidos da América e da Suíça.

Consequentemente, nenhuma legislação externa e nenhuma autoridade - uma, aliás, inseparável da outra, e ambas tendendo à servidão da sociedade e à degradação dos próprios legisladores.

—Bakunin.

https://www.marxists.org/reference/archive/bakunin/works/various/authrty.htm

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[...] o impacto tanto da agricultura comercial como do crescimento do Estado foi a redução progressiva da fiabilidade das garantias de subsistência até um ponto em que os camponeses não tinham praticamente outra alternativa senão a resistência.

SEGURO DE RISCOS NA ALDEIA

Se a necessidade de um mínimo garantido é um motivo poderoso na vida dos camponeses, seria de esperar encontrar padrões institucionalizados nas comunidades camponesas que satisfizessem essa necessidade. E, de facto, é sobretudo na aldeia – nos padrões de controle social e reciprocidade que estruturam a conduta diária – que a ética da subsistência encontra expressão social.

O princípio que parece unificar uma vasta gama de comportamentos é o seguinte: "A todas as famílias da aldeia será garantido um nicho mínimo de subsistência, na medida em que os recursos controlados pelos aldeões o tornem possível".

O igualitarismo da aldeia, neste sentido, é conservador e não radical; defende que todos devem ter um lugar, um modo de vida, e não que todos devem ser iguais.

A força social desta ética, o seu poder protetor para os pobres da aldeia, variava de aldeia para aldeia e de região para região. Era, em geral, mais fortes nas áreas onde as formas tradicionais de aldeia estavam bem desenvolvidas e não tinham sido destruídas pelo colonialismo – Tonkin, Annam, Jaa, Alta Birmânia – e mais fraca nas áreas pioneiras mais recentemente colonizadas, como a Baixa Birmânia e a Cochinchina.

No entanto, esta variação é instrutiva, pois é precisamente nas regiões em que a aldeia é mais autónoma e mais coesiva que se encontram as mais fortes garantias de subsistência.

Assim, tendo controle sobre os seus assuntos locais, os camponeses optam por criar uma instituição que normalmente protege os mais fracos contra a ruína, fazendo certas exigências aos aldeões mais abastados.

A compreensão das garantias sociais informais da vida na aldeia é crucial para a nossa argumentação porque, como são sustentadas pela opinião local, representam uma espécie de modelo normativo vivo de equidade e justiça. Representam a visão camponesa de relações sociais decentes.

— Por James Scott.

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No centro dos movimentos populares de protesto dos pobres urbanos e rurais da Europa dos séculos XVIII e XIX não estava tanto uma crença radical na igualdade da riqueza e da propriedade fundiária, mas a reivindicação mais modesta de um "direito à subsistência", uma reivindicação que se tornou cada vez mais consciente de si própria à medida que era cada vez mais ameaçada.

O seu pressuposto central era simplesmente que, independentemente das suas incapacidades civis e políticas, os pobres tinham o direito social à subsistência.

Por conseguinte, qualquer reivindicação das elites ou do Estado sobre os camponeses não podia ter justiça quando infringia as necessidades de subsistência. Esta noção assumiu muitas formas e foi, evidentemente, interpretada de forma elástica quando lhe convinha, mas, sob várias formas, proporcionou a indignação moral que alimentou inúmeras rebeliões e jacqueries.

O "droit de subsistance" foi o que galvanizou muitos dos pobres na Revolução Francesa; esteve por detrás da "taxation populaire", quando o público confiscou cereais e os vendeu a um preço justo determinado pelo povo; esteve também por detrás do "máximo jacobino", que ligava o preço dos bens de primeira necessidade aos níveis salariais.

Em Inglaterra, pode igualmente ser vista nos motins do pão e no malfadado sistema de ajuda de Speenhamland.

A formulação mínima era que as elites não deviam invadir a reserva de subsistência dos pobres; a formulação máxima era que as elites tinham uma obrigação moral positiva de prover às necessidades de subsistência dos seus súbditos em tempo de escassez.

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Texto em inglês que conta um pouco da história de uma figura não muito conhecida da história brasileira: o alemão Friedrich Kniestedt, que viveu no Rio Grande do Sul e se opunha ferrenhamente ao nazismo, tendo inclusive editado um jornal anarquista chamado Der freie Arbeiter.

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uma critica sobre o discurso atual sobre Palestina/Israel

Autores: Ben Gidley, Daniel Mang, Daniel Randall

Tradutores: Günter Sarfert, Antônio Xerxenesky, Sonia Hotimsky / Judias e Judeus pela Democracia – São Paulo

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Esquerda liberal e conseevadora limita-se a grandes eventos e seus líderes. Já esquerda libertária da mais atenção a história da classe trabalhadora que precede e criam os grandes eventos. Video sobre o poder da contra cultura e pequenos grupos de trabalhadores que precedem grandes revoluções. (Auto Legenda em PT)

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Se formos considerar o fator tempo, uma unidade territorial autogerida existiu no Brasil e durou quase 100 anos, se chamou Quilombo dos Palmares.

Se considerarmos o fator impacto global, temos a Revolução Haitiana que as consequências foram a luta abolicionista no globo, deixando rastros também para as revoluções anticoloniais.

Nesse caso, temos a Revolução Mexicana, onde a pauta da Reforma Agrária atinge movimentos e lutas até os dias de hoje.

Se considerarmos modelos de socialização de propriedade, podemos citar a Revolução Espanhola, onde comitês das cidades e dos campos se uniam para construir uma economia autogerida.

Mas o marxista ortodoxo por algum motivo só considera a Revolução Russa como sucesso. É uma leitura equivocada do ponto de vista histórico, e tem um vício ideológico que ignora a luta e cosmovisão de outros povos, inclusive dos seus próprios países. Como se o modelo e a experiência fosse se repetir exatamente aqui. Um planetário de erros, diria Thompson.

(Kauan Willian)

https://twitter.com/kakobelmont/status/1602796884631887872?t=lcliojH6pelw9K4Dq_LfGg&s=19

Mas eles não levam em consideração que a Revolução Russa tenha sido a primeira com teor marxista, enquanto as outras, maravilhosas, importantes e tudo mais, não eram marxistas? (Bryan)

Eu acho que a confusão é exatamente essa, falar que se não é marxista não foi Revolução. Pera aí, Marx falava do avanço das Revoluções Burguesas, e Lenin das Revoluções de Libertação Nacional. Não é pq não é marxista que não tem relevância revolucionária (Kauan Willian)

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...Falar sobre a questão de organização e não organização é ridículo; esta questão nunca esteve em disputa entre anarquistas sérios, exceto talvez para aqueles individualistas solitários cuja ideologia está mais enraizada em uma variante extrema do liberalismo clássico.

Sim, os anarquistas acreditam na organização – na organização nacional e na organização internacional.

A organização anarquista variou de grupos soltos e altamente descentralizados a movimentos de vanguarda de muitos milhares, como a FAI espanhola, que funcionou de maneira altamente coordenada.

O que diferentes tipos de organizações anarquistas têm em comum é que elas são desenvolvidas organicamente de baixo para cima, não projetadas para existir de cima.

Inegavelmente surgem problemas que só podem ser resolvidos por comitês, por coordenação e por uma alta medida de autodisciplina. (...)

Nenhum anarquista sério discordará do argumento (...) sobre a necessidade de eliminar a estrutura imperialista através de grupos organizados."

BOOKCHIN, Murray. Anarquismo e Organização, 1969.

https://twitter.com/profartcast/status/1597804345252352000?t=g_f6bQuNCLWkSmz-4Xy9zg&s=19

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Como muitas outras comunidades Michoacán, Cherán sofreu com o crime organizado, subornos políticos e a polícia corrupta. Sequestros, extorsão, assassinatos e abate ilegal da floresta local - o sangue vital da comunidade - faziam parte da vida diária local. O Los Angeles Times fornece o pano de fundo da revolta de 2011:

Esse foi o ano em que os residentes, na sua maioria indígenas e pobres, empreenderam uma insurreição e declararam autodeterminação na esperança de se livrarem dos males que afligem tanto o México: violência desenfreada, políticos corruptos, um sistema judicial desdentado e bandos que se expandiram do contrabando de drogas para a extorsão, rapto e abate ilegal de árvores.

"Para nos defendermos", explicou um líder comunitário, "tivemos de mudar todo o sistema - fora com os partidos políticos, fora com a Câmara Municipal, fora com a polícia e tudo. Tivemos de organizar o nosso próprio modo de vida para sobreviver". Assim, a 15 de Abril de 2011, um grupo de mulheres e homens que utilizavam pedras e fogo de artifício atacou um autocarro cheio de madeireiros ilegais associados ao cartel de droga mexicano, La Familia Michoacana, e armados com metralhadoras. Os vigilantes assumiram o controlo da cidade, expulsaram a força policial e os políticos e bloquearam estradas que conduziam à floresta de carvalhos numa montanha próxima que tinha sido sujeita ao abate ilegal de árvores por bandos armados apoiados por funcionários corruptos.

O policiamento comunitário foi alargado a vinte mil habitantes e a mais de 27.000 hectares de terras comunitárias. Os membros da vigilância dos bairros patrulham tanto a cidade como as florestas circundantes.

A Constituição do México permite o autogoverno e o autopoliciamento pelas comunidades indígenas. Após longas batalhas legais, o governo mexicano está a tratar Cherán autónomo como uma comunidade indígena autónoma.

"Na forma única de governo de Cherán, o verdadeiro poder está totalmente nas mãos do povo. Não há uma única decisão tomada sem consenso, desde quem vai conseguir um emprego local na construção, até à atribuição de serviços públicos e à supervisão da despesa do orçamento. A autoridade da assembleia da comunidade está acima de qualquer outro órgão governamental local"[2].

A comunidade elege um Conselho de 12 pessoas, "K'eri Jánaskakua", e tem cerca de 180 fogatas (Roda de fogueiras onde fazem os encontros) nos seus quatro bairros.

O Terceiro Conselho (Conselho de Anciãos, Conselho Superior, Conselho Municipal, Conselho de Keris) foi nomeado em 2018. Outros órgãos representativos incluem um conselho de jovens, um conselho de mulheres, conselhos de bairro, e um conselho de território comunal centrado no desenvolvimento empresarial.

A cidade proibiu os partidos políticos e as campanhas políticas.

Segundo o Guardian, a versão de Cherán da democracia directa forneceu "uma solução simples para a compra de votos e o patrocínio que atormentam a democracia mexicana". A democracia directa, segundo um activista da comunidade, não só salvou a floresta, como trouxe a paz: Cherán em 2017 teve a mais baixa taxa de homicídios em todo o estado de Michoacán e talvez mesmo em todo o país do México.

https://youtu.be/SrPBdLiqMb0

https://en.m.wikipedia.org/wiki/Cher%C3%A1n

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